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Astrolábio

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Uma réplica de um astrolábio.
Astrolábio persa do século XVIII

O astrolábio é um instrumento de medida antigo usado na navegação marítima no contexto das Grandes Navegações, que servia para medir a altura e posição (latitude) dos astros no céu em relação ao horizonte; isto é, era instrumento de navegação baseado na posição das estrelas no céu. Seu surgimento é o resultado de várias teorias matemáticas aplicadas desenvolvidas por estudiosos antigos (Euclides, Ptolomeu, Hiparco de Niceia e, Hipátia de Alexandria).[1] Foi reintroduzido na Europa no século XI EC através de versões árabes,[2] e aperfeiçoado por Abraão Zacuto (1450-1522).[3] O sextante, no século XVIII, substituiu este instrumento.

Também era utilizado para resolver problemas geométricos, como calcular a altura de um edifício ou a profundidade de um poço.

Característica

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Era formado por um disco de latão graduado na sua borda, um anel de suspensão e uma mediclina (espécie de ponteiro). O astrolábio náutico era uma versão simplificada do tradicional e tinha a possibilidade apenas de medir a altura dos astros, daí calcular a latitude, para ajudar na localização em alto mar.

O disco inicial foi parcialmente aberto para diminuir a resistência ao vento. O manejo do astrolábio exigia a participação de duas pessoas; consistia em grande círculo, por cujo interior corria uma régua; isto é, uma roda dividida em graus que tinha uma seta dulpa móvel presa no centro. A parte superior da seta mostrava a altura do sol acima do horizonte.[1]

Uma pessoa suspendia o astrolábio na altura dos olhos, alinhando a régua com o sol, enquanto outra pessoa lia os graus marcados no círculo.

O desenvolvimento do astrolábio foi progressivo, ao largo de vários séculos, e padronizado como o resultado prático de várias teorias matemáticas desenvolvidas pelos estudiosos antigos: Euclides, Ptolomeu, Hiparco de Niceia e, Hipátia de Alexandria.[1] Hiparco (século II AEC) realizou os primeiros estudos em referência a um dispositico que permitisse mapear as estrelas e calcular as suas posiçoes. Séculos depois, Ptolemeu, em II EC, na sua obra Almagesto, um tratado matemático que contém tabelas astronómicas, e na sua outra obra Planisphaerium descreve o princípio da projeção estereográfica, fundamental ao funcionamento do astrolábio.[4][5] Teão de Alexandria, em cerca de 390 AEC, escreveu um tratado dedicado ao astrolábio, o qual foi a base de muitos escritos sobre o assunto na Idade Média; a sua filha Hipátia de Alexandria chegou a criar um astrolábio.[6] Um dos seus discípulos, Synesius de Cirene, também possuía um invento de características semelhantes.

Durante a Idade Média o astrolábio atingiu uma grande popularidade, tendo sido objeto de aperfeiçoamento durante a Idade de ouro islâmica, por também ser utilizado com fins religiosos para calcular horários, a direção de Meca, ou navegar.

Entre os maiores expoentes na melhoria do astrolábio estão os Tratados dos persas Al-Farghan (séc. IX) e Al-Sufi (século X), que realizou a revisão do Catálogo Estelar incluído na obra Almagesto de Ptolomeu e escreveu um tratado de 386 páginas sobre a utilização do astrolábio, incluindo as suas diversas aplicações. Através destes conhecimentos os europeus voltaram a ter contacto com o instrumento no século XI EC.[2]. Abu Ixaque Ibraim Azarcali, nascido no Al-Andalus no século XI, criou uma versão mais avançada, com o nome astrolábio universal, que podia ser usado em qualquer latitude, tornando-se uma inovação significativa na época e para a navegação global. As obras que escreveu foram amplamente traduzidas para o latim, influenciaram a astronomia europeia e foram amplamente adotadas por estudiosos e navegadores.[7]

O astrolábio moderno de metal foi desenvolvido por Abraão Zacuto em Lisboa, a partir de versões árabes, conseguindo obter leituras de maior precisão.[3]

Exploradores e cientistas notáveis que utilizaram o astrolábio

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  • Al-Farghani, astrónomo persa no século IX, escreveu um tratado sobre a utilização do astrolábio.[8]
  • Abd al-Rahman al-Sufi, matemático e astrónomo persa, escreveu no século X um extenso compêndio sobre as mais de mil utilizações do astrolábio, em diversos contextos.[2]
  • Abu Ixaque Ibraim Azarcali, nascido no Al-Andalus no século XI, criou o astrolábio universal.[7]
  • Vasco da Gama, o renomado navegador português do século XV, é amplamente conhecido por sua histórica viagem para a Índia, que marcou a abertura da rota marítima entre a Europa e a Ásia. Um dos instrumentos fundamentais que o auxiliou em suas navegações foi o astrolábio, um dispositivo crucial para a navegação astronômica da época.[9]
  • Nicolau Copérnico: Astrônomo nascido no Reino da Polónia durante o século XVI que formulou a teoria heliocêntrica. Antes da invenção do telescópio, Copérnico usou o astrolábio para suas observações astronômicas e cálculos.[10]
  • Galileu Galilei: Físico e astrônomo nascido no século XVII no Grão-Ducado da Toscana, atual Itália. Antes de desenvolver o telescópio, Galileu usou o astrolábio para observações astronômicas e como meio de apoio nas suas pesquisas.[11]
  • Cristóvão Colombo: Cristóvão Colombo usou o astrolábio como parte de seu equipamento de navegação. O astrolábio ajudava na determinação da latitude, uma habilidade crucial para a navegação oceânica na época. Apesar de ser mais conhecido por suas descobertas e pela "descoberta" das Américas, seu sucesso também deveu-se ao uso de instrumentos náuticos avançados, como o astrolábio.[12]
  • Pedro Alvares Cabral: Cabral utilizou o astrolábio e outros instrumentos de navegação para orientar sua frota durante sua expedição ao Brasil e para as Índias. O astrolábio era fundamental para medir a altura dos astros e ajudar na determinação da latitude, o que era essencial para a navegação em alto-mar na época.[13]

Referências

  1. a b c «Astrolábio». Museu de Topografia do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Consultado em 13 de novembro de 2023 
  2. a b c Birx, H. James (13 de janeiro de 2009). Encyclopedia of Time: Science, Philosophy, Theology, & Culture (em inglês). [S.l.]: SAGE 
  3. a b «Astrolábio: origem e como funciona». Toda Matéria. Consultado em 13 de novembro de 2023 
  4. http://astrolabes.org/history.htm
  5. «A Dictionary of Greek and Roman biography and mythology, Ptolemaeus, Clau'dius». www.perseus.tufts.edu. Consultado em 14 de outubro de 2024 
  6. Hipátia
  7. a b Aguilar, Maravillas Aguiar (1 de janeiro de 2013). «Un regalo para un futuro rey: la azafea ofrecida por el astrónomo Ibn al-Zarqalluh (Azarquiel) al niño al-Mu'tamid». El siglo de al-Mu'tamid. Consultado em 14 de outubro de 2024 
  8. Farghānī (2005). On the Astrolabe (em inglês). [S.l.]: Franz Steiner Verlag 
  9. «Astrolábio de expedição de Vasco da Gama entra para livro dos recordes». Revista Galileu. 18 de março de 2019. Consultado em 5 de setembro de 2024 
  10. «Nicolau Copérnico: biografia e teoria heliocêntrica.». Toda Matéria. Consultado em 6 de setembro de 2024 
  11. «Galileu e sua luneta sacudiram a astronomia no século 17». Jornal da USP. 25 de novembro de 2016. Consultado em 6 de setembro de 2024 
  12. «Descoberta da América: As viagens de Cristóvão Colombo». educacao.uol.com.br. Consultado em 6 de setembro de 2024 
  13. «Encontrado astrolábio que pertencia à esquadra de Vasco da Gama». Super. Consultado em 6 de setembro de 2024 

Ligações externas

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