PH Saliva
PH Saliva
ARTIGO ORIGINAL
ORIGINAL ARTICLE
Correlao do pH e volume
salivares com sintomas
laringofarngeos
Resumo / Summary
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(especialmente Na+).
Interessantemente, algumas drogas que foram bastante utilizadas no tratamento dos pacientes com sintomas
laringofarngeos ocasionados pelo refluxo gastroesofgico
tambm podem provocar alteraes na composio salivar.
Dentre elas, a cisaprida, uma droga procintica, tem mostrado em alguns estudos a capacidade de aumentar o volume
salivar e, conseqentemente, a capacidade de cido-proteo. Chen et al.18, estudaram, por intermdio da cintilografia,
55 pacientes com esofagite de refluxo. Dividiu sua amostra
em dois grupos, em um grupo manteve os pacientes em
jejum e ofereceu cisaprida e no segundo manteve os pacientes alimentados e tambm ofereceu cisaprida. O fluxo
salivar foi estudado antes e depois da ingesto da droga.
Houve aumento significativo do volume salivar nos sujeitos
que receberam cisaprida aps a alimentao.
Tambm os inibidores de bomba de prtons parecem ter efeitos sobre a produo de saliva. Foram investigados mecanismos de formao fluida primria atravs de glndulas mandibulares de cangurus vermelhos que usam ontransporte e inibidores de anidrase carbnica na secreo
salivar. Aps a ingesto de butesamida, os cangurus apresentaram, simultaneamente, decrscimo de [Na], [Cl] e da
osmolaridade, alm de aumento da composio de [K] e
[HCO3]. J quando os animais receberam bumetanida associada a amilorida houve aumento de [K] e [HCO3] e diminuio de [Cl], sem qualquer efeito no [Na] ou no fluxo salivar total19.
Como vemos, h implicaes diversas na capacidade
de tamponamento e na possvel ao protetora que a saliva
exerce quando estamos submetidos a condies no totalmente estudadas. Estas condies so pouco conhecidas e
poderiam se devidamente compreendidas e manipuladas
alterar o curso de uma afeco to prevalente como o dito
Refluxo Laringofarngeo.
INTRODUO
Apesar do grande entusiasmo despertado pelo avano dos conceitos definidores do refluxo laringofarngeo (RLF),
ainda muito difcil para o otorrinolaringologista estabelecer com segurana se esta sndrome poder ser considerada
no futuro como uma doena semelhante ao refluxo
gastroesofgico1. A nosso ver, os sinais inflamatrios no segmento laringofarngeo encontrados em alguns pacientes que
apresentam phmetria com presena de pH abaixo de 5 na
sonda proximal podem ser mimificados por outras situaes
que agridem a regio, no sendo, portanto, patognomnicos
de RLF. Dentre as possibilidades de agresso local esto a
hiperacidez causada seja por inalao de cigarro, a ingesto
de alimentos custicos ou em extremos de temperatura e
as infeces gengivais, nasais ou orofarngeas2-6. Alm destas eventualidades, as condies de fluxo salivar, seu volume, clearence e alteraes das condies eletrolticas da saliva
podem influenciar na capacidade de proteo da mucosa
regional7-12.
O equilbrio entre os fatores de agresso e de proteo faringolarngeos tem sido estudado em seus diversos
aspectos, seja na mensurao de fatores epiteliais como
expresso de protenas (TNF, EGF e p53), seja nas substncias que possam contribuir para a agresso tecidual como a
pepsina, o cido clordrico e a presena de fungos e bactrias13-16.
Sabendo que a saliva uma das principais responsveis pela manuteno da homeostase bucal, contribuindo
para a estabilidade do pH e flora orais, o conhecimento das
relaes entre o pH salivar e seu volume com sintomas
laringofarngeos associados ao RFL passa a ser um fator de
extrema importncia na clnica, tanto para a teraputica
quanto para o diagnstico das afeces inflamatrios deste
segmento.
At o momento, pouca ateno foi dirigida no sentido de reconhecer qual a composio salivar ideal e quais
as mudanas determinadas por fatores como nvel de
hidratao, alimentao, exerccio e estado emocional. Este
conhecimento seria importante se a saliva, de fato, exercer
um papel na homeostase regional e poderia ser determinante
na produo de sinais e sintomas locais. Para esclarecer isto,
Chicharro et al.17 estudaram os efeitos da atividade fsica na
composio salivar. Segundo os autores, o exerccio poderia
induzir mudanas em vrios componentes salivares como
imunoglobulinas, hormnios, lactato, protenas e eletrlitos.
Os autores consideram que a composio da saliva poderia
ser usada como um indicador da resposta dos tecidos de
corpo aos diferentes esforos fsicos. Neste respeito, a resposta de amilase e eletrlitos salivares para incrementos de
atividade fsica seria de interesse particular. Segundo seus
estudos, alm de uma certa intensidade de exerccio, e coincidindo com o acmulo de lactato no sangue, h uma ntida elevao dos nveis salivares de alfa-amilase e eletrlitos
OBJETIVO
Este estudo teve como principal objetivo observar a
relao entre os sintomas laringofarngeos de inflamao e o
pH e volume salivares.
MATERIAL E MTODO
Foram estudados 59 sujeitos com idades variando de
24 a 76 anos, com mdia 50,5 anos, sendo 44 mulheres e
15 homens. Os pacientes foram selecionados a partir de
uma amostra aleatria de sujeitos seguidos no ambulatrio
de Gastroenterologia do Hospital Central da Santa Casa de
So Paulo e encaminhados para avaliao da presena ou
ausncia de refluxo laringofarngeo. Todos os pacientes encaminhados entraram na amostra. No houve critrios de
excluso, uma vez que no tnhamos uma hiptese nula a
ser testada e o trabalho se propunha a fazer uma prospeco
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Anlise estatstica
Os resultados de cada um dos parmetros foi comparado atravs de anlise de regresso simples para pares X e
Y baseado em mtodo de menor quadrado com o modelo:
Sexo
Volume
Salivar
Sintomatologia
Faringolarngea
Geral
pHsalivar
-0,079
0,283
0,1327
-0,4331
A co-relao do pH salivar versus pHmetria foi de 0,164.
Halitose
-0,341
Pigarro Tosse
Globus
Tosse
pharyngeus
-0,334
-0,163
-0,623
Afta
-0,287
Sexo Sintomatologia
Faringolarngea
Geral
0,196
0,0694
Halitose
Pigarro
Tosse
Volume
0,099
-0,001
-0,097
salivar
A co-relao do volume salivar versus pHmetria foi de -0,088.
Tosse
Globus
pharyngeus
Afta
Disfonia
Xerostomia
Caseum
-0,154
-0,084
-0,133
0,009
0,014
0,025
26
Problemas
DentoGengivais
0,112
Amigdalite
Glossodinia
de Repetio
0,040
0,112
Tabela 3. Resultado de anlise de co-relao entre volume salivar e sintomas, nos pacientes com pH salivar = 6
Volume
Salivar
Halitose
Pigarro
Tosse
Globus
Pharyngeus
Afta
Disfonia
Xerostomia
Caseum
-0,998
-0,532
0,576
-0,903
-0,576
0,620
0,576
0,000
Problemas
DentoGengivais
0,000
Amigdalite Glossodinia
de Repetio
0,576
0,576
Tabela 4. Resultado de anlise de co-relao entre volume salivar e sintomas, nos pacientes com pH salivar = 7
Volume
Salivar
Halitose
Pigarro
Tosse
Globus
Pharyngeus
Afta
Disfonia
Xerostomia
Caseum
0,175
-0,029
-0,431
-0,001
0,088
0,099
-0,008
0,028
Problemas
DentoGengivais
-0,130
Amigdalite Glossodinia
de Repetio
-0,130
0,066
Tabela 5. Resultado de anlise de co-relao entre volume salivar e sintomas, nos pacientes com pH salivar = 8
Volume
Salivar
Halitose
Pigarro
Tosse
Globus
Pharyngeus
Afta
Disfonia
Xerostomia
Caseum
-0,176
-0,359
0,176
0,261
-0,314
0,0
0,117
0,0
Problemas
DentoGengivais
0,442
Amigdalite Glossodinia
de Repetio
0, 0
0,0
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